terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Livro de Daniel – Estudo
Plano de leitura
Número total capítulos: 12
Total de versículos: 357
Tempo aproximado de leitura: 60 min
Breve Resumo:
O livro de Daniel é formado por duas partes, a primeira parte é essencialmente narrativa e tem um propósito didático, orientado a demonstrar que a sabedoria e o poder de Deus estão infinitamente acima de toda possibilidade e compreensão humanas.
Daniel, um dos jovens judeus levados para a Babilônia, uma vez na Babilônia, Daniel e os seus três companheiros, Hananias, Misael e Azarias (chamados por Nabucodonosor de Beltessazar, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego), são educados de maneira especial, Daniel aprende o idioma e a literatura do Império Neobabilônico e logo se destaca pela sua sabedoria extraordinária e pela firmeza das suas convicções. Ele e os seus amigos, fiéis ao Deus de Israel, se negam a aceitar qualquer tipo de favor que os leve a quebrar as prescrições rituais do Judaísmo.
Essa estrita fidelidade aos seus princípios religiosos os obrigam a enfrentar riscos de morte, dos quais são livrados pela mão do Senhor. Quanto à sabedoria de Daniel, esta se evidencia quando Deus lhe concede que descubra e interprete os sonhos de Nabucodonosor e também que, na presença de outro rei, Belsazar, decifre o escrito feito na parede por uma mão misteriosa.
A segunda parte contém uma série de visões simbólicas em linguagem apocalíptica que ampliam e desenvolvem certas noções já esboçadas na primeira seção. A primeira visão, de quatro animais monstruosos que sobem do mar representam os grandes impérios que sucessivamente dominam o mundo, mas o Senhor, posteriormente, os deixará sem poder e destruirá por completo. Conforme João Calvino, estas visões de Daniel devem ser interpretadas em relação a um futuro recente, que termina com a destruição do templo de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C.
1 - Histórias de Daniel e dos seus companheiros:
Daniel 1,3-4: “Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres, jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento e que fossem competentes para assistirem no palácio do rei e lhes ensinasse a cultura e a língua dos caldeus”.
Daniel 2,1: “No segundo ano do reinado de Nabucodonosor, teve este um sonho; o seu espírito se perturbou, e passou-se-lhe o sono”.
Daniel 2,19: “Então, foi revelado o mistério a Daniel numa visão de noite; Daniel bendisse o Deus do céu”.
Daniel 4,34-35: “Mas ao fim daqueles dias, eu, Nabucodonosor, levantei os olhos ao céu, tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domínio é sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”
Daniel 5,25-28: “Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM. Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele. TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. PERES: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas”.
2 - Visões apocalípticas (conforme comentários de João Calvino):
a - Os quatro animais:
Daniel 7,2-3: “Falou Daniel e disse: Eu estava olhando, durante a minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o mar Grande. Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar”.
Os quatro animais simbolizam quatro impérios, o primeiro é o babilônico, o segundo os persas, o terceiro o império macedônico e o quarto o império romano.
Este quarto animal, que simboliza o império romano, tinha dez chifres: estes chifres simbolizam a divisão em províncias, cada uma com um governador e muito poder.
O chifre pequeno: este chifre pequeno são os césares romanos, começando com Júlio César, pois antes disto os imperadores eram cônsules totalmente sujeitos ao senado.
A destruição do império romano - 7,11: “Então, estive olhando, por causa da voz das insolentes palavras que o chifre proferia; estive olhando e vi que o animal foi morto, e o seu corpo desfeito e entregue para ser queimado”.
A visão do Filho do Homem – 7,13-14: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído”.
b - O carneiro e o bode:
8,3-4: “Então, levantei os olhos e vi, e eis que, diante do rio, estava um carneiro, o qual tinha dois chifres, e os dois chifres eram altos, mas um, mais alto do que o outro; e o mais alto subiu por último. Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte, e para o sul; e nenhum dos animais lhe podia resistir, nem havia quem pudesse livrar-se do seu poder; ele, porém, fazia segundo a sua vontade e, assim, se engrandecia”.
O carneiro é o império persa, e os dois chifres os impérios babilônicos e persa que se uniram em um só reino. As marradas do carneiro eram os países conquistados em todas as direções e nenhum deles podia resistir ao império persa.
8,5-6: “Estando eu observando, eis que um bode vinha do ocidente sobre toda a terra, mas sem tocar no chão; este bode tinha um chifre notável entre os olhos; dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chifres, o qual eu tinha visto diante do rio; e correu contra ele com todo o seu furioso poder”.
O bode é Alexandre, que derrotou o império babilônico/persa rápida e furiosamente. O chifre único do bode é o império grego, do qual Alexandre foi feito General Supremo. Após sua morte – “o grande chifre foi arrancado” – surgiram em seu lugar quatro outros chifres, que são os quatro generais de Alexandre que dividiram entre si o seu império.
O chifre pequeno que teve origem nos quatro chifres é Antíoco Epifânio, este chifre é chamado de pequeno não por causa do poder de Antíoco, mas pelo seu caráter desprezível. Antíoco perseguiu duramente a igreja de Israel com arrogância inusitada e com todas as forças e artifícios ao seu alcance para perverter a religião.
3 - Oração de Daniel:
9,18: “Inclina, ó Deus meu, os ouvidos e ouve; abre os olhos e olha para a nossa desolação e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias”.
Nesta oração pelo povo de Israel, Daniel reconhece a todos como pecadores que não merecem o amor de Deus, e pede pela misericórdia de Deus sem consideração da justiça própria do povo e de cada um deles, incluindo a si mesmo nesta situação.
4 - O mensageiro do céu:
9,24: “Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos”.
Esta promessa refere-se a algo mais excelente do que tudo o que havia até então, segundo Calvino a previsão aqui referida é o advento de Cristo.
9,25-26: “Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos. Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas”.
Desde a saída da ordem para restaurar... até ao Ungido, refere-se ao período do édito de libertação dos judeus da babilônia até o batismo de Cristo.
As sete semanas: Ciro permitiu aos judeus reconstruir o templo, os fundamentos foram lançados, mas quando Ciro saiu para guerrear contra a Citia, os judeus tiveram que paralisar a construção por 46 anos, somados aos três anos em que foram lançados os fundamentos temos 49 anos, as sete semanas.
As sessenta e duas semanas: Ao final do reinado de Ciro até o batismo de Cristo decorreram 480 anos, as sessenta e duas semanas, com alguma aproximação, que Calvino considera normal nas profecias.
No capítulo onze as profecias anteriores são repetidas de forma abreviada.
7 – Deus preserva sua igreja:
12,1: “Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro”.
Ainda segundo Calvino, esta profecia refere-se à perseguição que a igreja de Deus sofre em todos os tempos, e o segundo período refere-se à salvação dos eleitos de Deus.
12,2: “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno”.
Aqui o anjo estende a preservação dos filhos de Deus, desde o início da pregação do evangelho até a ressurreição final.
6 - O tempo do fim:
12:7 “Ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, quando levantou a mão direita e a esquerda ao céu e jurou, por aquele que vive eternamente, que isso seria depois de um tempo, dois tempos e metade de um tempo. E, quando se acabar a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão”.
Um tempo, dois tempos e meio tempo, estas palavras se referem a um longo tempo, indefinido e a finalidade é que o povo de Deus tenha paciência e esperança na tribulação que fatalmente virá sobre a igreja de Deus.
12,10: “Muitos serão purificados, embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão”.
Aqui vemos novamente a separação dos eleitos, que serão purificados, e dos réprobos, que procederão perversamente.
12,11: “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias”.
O tempo em que o sacrifício for tirado: o início da pregação do evangelho, a partir deste período não haveria mais necessidade do sacrifício diário, pois o sacrifício de Cristo é único e eterno. 1290 dias é também tomado por Calvino como um tempo metafórico, um longo período de perseguição e tribulação que deve ser suportado com paciência.
12,12: “Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias”.
Novamente conforme Calvino, este período de tempo se refere ao mesmo período do verso anterior, também exortando os cristãos a terem paciência na tribulação e confiar unicamente em Cristo para a salvação e perseverança na fé.
Autor
O livro apresenta O profeta Daniel como autor em vários trechos, como 9.2 e 10.2. O livro foi provavelmente finalizado em 530 a.C., poucos anos depois de Ciro conquistar a Babilônia, em 539.
Quem era Daniel
Sábio, interprete de sonhos e visões, que viveu entre os exilados judeus na Babilônia.
Daniel era jovem quando foi levado para a Babilônia, talvez logo no início do domínio de Nabucodonosor sobre Jerusalém, em 605 a.C. (contemporâneo a Ezequiel, pouco mais jovem). Sabe-se pouco sobre ele, mas pelos conhecimentos que demonstrava devia fazer parte das camadas dominantes e dirigentes de Jerusalém. Ele era reconhecidamente um homem de ciência. Nada se sabe a respeito da sua família. A sua piedade diante de Deus e sua integridade nos negócios de Estado (Dn 2.14-23) nos levam a pensar nas instruções do ambiente familiar.
Ele ascendeu rapidamente, tornando-se um dos oficiais mais respeitados do governo. Sua reputação se manteve mesmo com o colapso do Império Babilônico. Já em idade avançada foi um dos homens poderosos do Império Medo-Persa sendo subordinado apenas ao rei.
Um livro polêmico
Daniel é um dos livros mais polêmicos e complexos do Antigo Testamento. Na Bíblia Hebraica aparece entre os “Escritos” e, no cânon cristão das Escrituras, entre os “Proféticos”. O livro de Daniel é o único livro apocalíptico do Antigo Testamento. Por essa razão, de forma rigorosa, para os hebreus, o livro não cabe no cânon dos profetas. Daniel enfatiza o controle divino sobre as potencias mundiais, e destina-se a animar os judeus na fé e esperança em Deus diante das perseguições de Antíoco Epífanes (Dn 8.23-25).
Daniel pode ser considerado companheiro do livro de Apocalipse; ambos contêm uma linguagem figurada de difícil interpretação. A tentativa de adaptar as profecias de Daniel e Apocalipse aos fatos da história humana tem produzido ilimitados conflitos de opiniões. A verdadeira interpretação dos detalhes das visões nem sempre é clara.
Dois fatos são geralmente reconhecidos pela maioria dos eruditos (pessoas com conhecimento / domínio vasto de um determinado assunto):
1- As profecias representam uma revelação parcialmente velada de eventos futuros da história secular e sagrada.
2- As visões assinalam o triunfo final do Reino de Deus sobre todos os poderes e do mundo.
No Capítulo 7, muitos comentaristas vêem as quatro bestas como representando os quatro grandes impérios: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma (....ruíram, restando apenas 1)), seguidos por uma visão do Messias.
No capítulo 8, aparece outro período da história medo-persa e grega sob a figura de uma besta.
O capítulo 9, a oração de Daniel é uma profecia velada do tempo da vinda do Messias.
Os capítulos 10, 11 e 12, contêm predições adicionais de longo alcance e revelações de acontecimentos futuros. Estes três capítulos tem sido campo de batalha de controvérsia teológica com muitas variadas interpretações.
Data e composição
Os argumentos apresentados para datar o livro no tempo de Antíoco IV Epifânio envolvem três pontos básicos:
1 – A natureza da profecia do Antigo Testamento;
2 – Problemas históricos;
3 – As línguas hebraica e aramaica do livro.
Em termos gerais, os profetas de Israel estavam preocupados, em primeiro lugar, com as circunstâncias religiosas e sócias nas quais viviam os seus contemporâneos, ao invés de ficar fazendo predições a respeito de acontecimentos futuros. Quando efetivamente prediziam o futuro, tratava-se normalmente de eventos em curto prazo, como as profecias de Jeremias sobre a queda iminente de Jerusalém diante dos babilônios. A visão de Daniel referente ao “rei do Norte” e ao “rei do Sul” traça um paralelo exato à história das relações existentes entre os impérios selêucida e ptolemaico no tempo de Antíoco IV Epifânio (11.2-39). Por outro lado a descrição das circunstâncias que cercam a morte do rei (11.40 – 12.3) não corresponde ao que se conhece sobre o falecimento de Antíoco. Com base nesses dados, alguns estudiosos argumentam que o livro de Daniel foi escrito no tempo de Antíoco, um pouco antes de sua morte. Contudo, a ideia de que os profetas de Israel não predisseram acontecimentos num futuro mais distante depende do pressuposto de que as profecias de Daniel são tardias, como também as de Isaías que se referem a Ciro (Is 44.28; 45.1). Isso também pode significar uma rejeição à profecia em geral.
Os acontecimentos do livro de Daniel situam-se no contexto do século VI a.C. No entanto, muitos estudiosos atuais atribuem a composição do livro a um autor do século II a.C., especificamente entre os anos 168 e 164. O motivo da escolha dessa data e sua precisão derivam-se do capitulo 11 deste livro. Ali Daniel fala acerca de vários reis cujos nomes não são citados, mas, os denomina como já foi citados acima: “Rei do Norte” e "Rei do Sul”. Entretanto os detalhes deste capítulo coincidem com a história do Oriente Médio do período de Alexandre, o Grande, no século IV a.C. ao período de Antíoco Epifânio, no século II a.C.
A realidade de tudo isso é que não temos evidencias que impeçam a datação do século VI a.C. Além disso, as provas linguísticas (com relação ao hebraico e aramaico de Daniel) indicam um período anterior ao II século. O fato de Daniel escrever na primeira pessoa a partir do capitulo 7 até o fim do livro, sugere naturalmente que ele seja o autor, embora o uso da terceira pessoa na primeira parte possa indicar que outra pessoa tenha determinado a estrutura e organização do livro.
No tocante a datação do idioma utilizado por Daniel, deve-se notar em primeiro lugar, que um grande bloco do texto (2.4 a 7.28) está escrito em aramaico, não em hebraico. A razão para mudança de idioma é desconhecida. Alguns estudiosos têm argumentado que o aramaico utilizado é tardio. Uma outra evidência de data posterior do texto seria o uso de diversos vocábulos emprestados da língua grega ao referir-se a instrumentos musicais (3.5). No entanto, nenhum dos argumentos é realmente convincente. Há inúmeras evidências de contatos entre gregos e o Oriente Próximo, anteriores ao tempo de Alexandre, o Grande. Esses contatos são suficientes para justificar o aparecimento de vocábulos emprestados da língua grega. O aramaico e o hebraico de Daniel podem ser datados em qualquer ocasião situada entre o final do século VI e o início do século II a.C. Em outras palavras, o argumento da língua não tem peso significativo para determinação duma data anterior ou posterior.
Contexto histórico
Em 626 a.C., Nabopolassar foi entronizado na Babilônia quando os babilônios declararam independência do Império Assírio em declínio. Aliando-se aos medos no leste, começaram a testar a força dos assírios. Em 612, a capital Nínive caiu e, com o colapso do governo após queda da Carquêmis em 605, os assírios antigamente poderosos só ficaram na lembrança do povo do Oriente Médio ao qual aterrorizaram durante quase 150 anos.
Com a morte de Nabopolassar, o trono foi ocupado com habilidade por seu filho, o General Nabucodonosor, em 605. Na época, ele assumiu o controle de todos os territórios perdidos pela Assíria, incluindo Judá. Os filhos de Josias que ocupavam o trono de Judá se mostraram incapazes de aceitar o papel de vassalo, pois nas duas décadas seguintes se envolveram constantemente em conspiração contra os babilônios. Isso resultou em várias deportações e, por fim na destruição de Jerusalém e do templo em 586 a.C., pelos exércitos de Nabucodonosor. Durante esse período, Daniel servia na corte babilônica, pois se encontrava no primeiro grupo de deportados levados para a Babilônia em 605 a.C.
Tema
O tema teológico do livro é a soberania de Deus: “o Deus Altíssimo domina sobre os reinos dos homens” (5.21). As visões de Daniel sempre demonstram Deus triunfando (7.11,26,27; 8.25; 9.27; 11.45; 12.13). O apogeu de sua soberania é descrito em Apocalipse: “O reino do mundo se tornou de Nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre” (Ap 11.15; Dn 2.44; 7.27).
Dificuldades de interpretação (não é um livro de fácil leitura)
A autoria e data do livro de Daniel não são as únicas dificuldades do texto. Há divergências significativas na abordagem do livro. Essas divergências se dividem em três categorias principais.
A primeira abordagem é feita por aqueles que concluem que o livro foi escrito no tempo de Antíoco Epifânio. De acordo com esse ponto de vista, todas as referências a eventos anteriores a Antíoco são mera história, escritas em ocasião posterior aos acontecimentos. Para eles a única predição genuína no livro seria a morte de Antíoco e a esperada intervenção de Deus para estabelecer seu Reino (11.36 a 12.3).
Um segundo e mais tradicional ponto de vista atribui à ênfase principal das predições contidas no livro ao primeiro advento de Cristo. Essa abordagem está geralmente associada a uma compreensão escatológica amilenista ou pós-milenista.
Um terceiro ponto de vista considera que Antíoco Epifânio e a perseguição ao povo de Deus durante o seu reinado se constituem o primeiro enfoque do livro. O segundo é a intervenção divina no curso da história da humanidade ao final dos tempos, quando Deus estabelecerá seu Reino. A ênfase do livro não se acha no primeiro advento de Cristo (Cap. 9), mas sim em Antíoco e na segunda posição escatológica pré-milenista. Nessa compreensão, há grandes divergências entre os comentaristas quando se trata da interpretação dos detalhes do texto.
Propósito e mensagem
A soberania de Deus é o centro deste livro e pode ser vista em ação nos âmbitos espirituais e políticos. No relato dos acontecimentos da vida de Daniel e de seus amigos, a ênfase está na vida de fé em um mundo cada vez mais hostil. A soberania de Deus é vista pela ótica da capacidade de fazer prosperar ou livrar os fiéis.
A soberania de Deus nas questões políticas é demonstrada nas visões do livro. O propósito era lidar com as expectativas da comunidade exílica e pós-exílica. Com base na leitura de profetas anteriores, o povo de Israel acreditava que o Reino de Deus seria estabelecido com o retorno a Jerusalém depois de setenta anos de exílio. As visões de Daniel diziam que ainda haveria quatro reinos antes da chegada do Reino de Deus e que, apesar do retorno do exílio acontecer após setenta anos, conforme profecia de Jeremias, isso não podia ser confundido com a restauração total. Em vez de setenta anos, o período necessário seria de setenta semanas de anos.
Enquanto isso, os israelitas deviam ser fiéis no mundo dos gentios sob circunstâncias cada vez mais difíceis de suportar. Deviam depender da soberania divina para resistir geração após geração, crise após crise. Também deviam confiar no poder de Deus de controlar a ascensão e declínio de impérios mundiais que viriam para dominá-los. Eles deveriam estar preparados para uma resposta de Deus que não viria de imediato.
O fato de o Reino de Deus ser o auge do programa divino para Israel e o mundo é transmitido claramente no livro de Daniel. O conceito é introduzido no capitulo 2 como Reino que jamais será destruído (2.44), embora de certa forma, Deus já governe em seu Reino Eterno (4.3,34,35).
No capítulo 7 versículos de 9 a 14, apresenta-se alguém denominado como “Filho do Homem” ao qual o Reino de Deus foi dado. Do nosso ponto de vista, podemos certamente identificá-lo como Jesus, mesmo que isso não estivesse claro para os povos da época de Daniel. Os capítulos 9 e 11 dizem respeito à época que precederá o estabelecimento do Reino de Deus.
Os reinos das nações são descritos como temporários e de domínio limitado. O Império Babilônico é o tema dos capítulos 4 e 5; o Medo-Persa e o Grego estão retratados explicitamente no capítulo 8; O Grego, em especial a Dinastia Selêucida é sem dúvida o comentado no capítulo 11.
Os quatro reinos apresentados nos capítulos 2 e 7 é o tema principal. A identificação dos quatro reinos não é feita no livro, apesar de Nabucodonosor ser identificado como o primeiro reino (2.38) e entendermos que os outros dois reinos mencionados em outras passagens, Medo-Persa e Grego, sejam os dois dos três restantes. Mas esse conhecimento não tem grande importância. O que realmente é importante no contexto do livro de Daniel é o contraste entre impérios humanos e o Reino de Deus.
Além desses temas abrangentes de Daniel, alguns conceitos-chave são relevantes para o estudo do livro. Um deles é o “tempo de angustia” (12.1), geralmente denominado de “grande tribulação” (Mt 24.21; Lc 21.23; Ap 2.22). Mateus relaciona essa grande tribulação com o “abominável da desolação” (Mt 24.15) predito por Daniel (Dn 9.27; 12.11).
O “anticristo” pode ser incluído na teologia de Daniel (Dn 7.8,20-22.24-27). Embora essa palavra só apareça nas epístolas de João (1Jo 2.18,22; 4.3; 2Jo 7), porém referências de uma pessoa de ódio satânico que surgirá no fim dos tempos da história humana, antes da segunda vinda de Cristo, são encontradas em vários textos bíblicos.
A idéia do milênio também ocorre no livro de Daniel. O termo milênio é derivado da palavra latina que significa “mil” e designa o período de mil anos descrito em Apocalipse 20. O caráter desses mil anos é interpretado pelos estudiosos, de três maneiras distintas, como se segue:
1- Os pré-milenistas acreditam que o milênio é um reino mundial de paz e justiça sobre a terra, que se iniciará após a segunda vinda de Cristo (Is 2.1-5; 11.1-10).
2- Os pós-milenistas acreditam que o milênio é um período de paz e justiça que será estabelecido pela pregação do Evangelho em todo mundo, resultando nas condições descritas em passagens como Isaías 2.1-5; 11.1-10.
3- Os amilenistas acreditam que o milênio é uma referencia figurada ao tempo presente do Evangelho. Desta forma o milênio não é visto como uma ordem política futura, mas como o reino espiritual do governo de Cristo sobre a Igreja.
Na interpretação dos pós-milenistas e amilenistas, o número “mil” é geralmente considerado como uma forma figurativa de representar um longo período de tempo, em lugar de mil anos literais.
As 70 semanas (9.24-27)
A interpretação desses versículos é discutida em muitos pontos particulares. Há duas abordagens fundamentais quanto à interpretação das “sete semanas”. Seriam períodos simbólicos ou períodos literais de tempo. No ponto de vista simbólico, os setenta anos de punição à Israel foram multiplicados por sete vezes em consonância com as maldições da aliança (Lv 26.18,21,24,28). Os defensores do ponto de vista literal, são de três categorias. Tal como outras profecias de Daniel, alguns estudiosos interpretam estes versículos como se eles se reportassem aos tempos de Antíoco IV. Outros interpretes podem ser divididos em dois grupos:
1 – Os que interpretam a passagem como se o enfoque primário sobre os acontecimentos estivessem associados ao advento de Cristo.
2 – Há os que interpretam a passagem como tendo referencia aos acontecimentos associados tanto com o primeiro como o segundo advento de Cristo, com um intervalo não declarado entre os dois adventos.
Obs.: Dentro de cada uma dessas interpretações há diferenças individuais quanto a detalhes.
A maioria dos intérpretes, vêem as unidades de setenta semanas como se representassem 490 anos (9.24-27). Essas setenta semanas de anos são então divididas em três subunidades de 49 anos (sete semanas). Os intérpretes diferem somente acerca da pergunta se essas subunidades devem ser vistas como uma seqüência contínua ou se há intervalos entre elas.
O Ungido
Há compreensão entre grande parte dos estudiosos que o “Ungido” é uma clara referencia a Jesus. Ligando as “sete semanas” (49 anos) e as “sessenta e duas semanas” (434 anos) como uma seqüência contínua, resulta em 483 anos, a partir de 457 a.C. até 27 d.C., ou seja, até aproximadamente o começo dos três anos do ministério público de Jesus. Mas há os que entendem que os 483 anos começam com a “ordem” de Artaxerxes no ano vigésimo de seu reinado, para a reconstrução dos muros de Jerusalém (Ne 2), ou seja, no ano 444 a.C., em lugar de sétimo ano de seu governo (Ed 7.12-26). Em 457 a.C. tomando-se por base o ano lunar de 360 dias (como acontece com o calendário judaico), essa aproximação atinge a data da crucificação de Jesus em 33 d.C. Essa data da crucificação é possível, embora discutível.
Há os que defendem que o “Ungido” é Ciro, usando como base Isaías 45.1. Esse ponto de vista separa as “sete semanas” e as “sessenta e duas semanas”. “As sete semanas” se passaram entre a destruição de Jerusalém, em 586 a.C., e o decreto de Ciro em 538 a.C. E “sessenta e duas semanas” (434 anos) seria o tempo durante o qual a cidade seria reconstruída, mais ou menos 538 a.C. e 70 d.C., quando Jerusalém foi destruída pelos romanos sob o comando do general Tito.
O certo que todos esses cálculos, não podem ser usados para uma datação da vinda de Cristo, com o fazem algumas seitas.
Conclusão
O livro de Daniel serviu para lembrar ao povo judeu que suas angústias não terminariam quando voltassem do exílio. Por isso as expectativas ficariam de lado por um tempo e a angústia continuaria. Contudo Deus sempre dá esperanças a seu povo, eles ressuscitariam (12.2). Deus os incentivou a perseverarem em meio a este período importante de purificação (12.10-13).
O cativeiro deveria servir para os deportados e os que ficaram na Jerusalém destruída, como um período de purificação e arrependimento. Não havia motivo para revolta ou cobranças ao Senhor Deus, e sim humilhação e reconhecimento de que os culpados pela desolação de sua pátria era sua desobediência à aliança entre eles e o Senhor, conforme reconhece Daniel em sua oração no capitulo 9.
Esboço de Daniel
I. As convicções religiosas de Deus 1.1-21
O exílio de Judá 1.1-2
A decisão de Daniel de manter-se separado 1.3-21
II. O primeiro sonho de Nabucodonosor 2.1-49
O sonho esquecido 2.1-28
A revelação e a interpretação de Daniel 2.29-45
Daniel é honrado através de promoção 2.46-49
III. A libertação da fornalha de fogo 3.1-30
Convocação para adorar a estátua de ouro 3.1-7
A recusa dos três hebreus de se prostrarem perante a estátua 3.8-18
Os três hebreus são miraculosamente protegidos 3.19-25
O rei confessa o Deus verdadeiro 3.26-30
IV. O segundo sonho de Nabucodonosor 4.1-37
O sonho de Nabucodonosor 4.1-37
A Interpretação da Daniel 4.19-27
O cumprimento do sonho 4.28-33
A oração e restauração de Nabucodonosor 4.34-37
V. A festa blasfema de Belsazar 5.1-31
A escrita manual na parede 5.1-9
A interpretação de Daniel da escritura 5.10-31
VI. Daniel na cova dos leões 6.1-28
Complô contra Daniel 6.1-9
Daniel é lançado na cova dos leões 6.10-17
Daniel é liberado 6.18-28
VII. A primeira visão de Daniel 7.1-28
O sonho da Daniel sobre os quatro animais 7.1-14
A Interpretação de Daniel 7.15-28
VIII. A segunda visão de Daniel 8.1-27
O sonho de Daniel sobre um carneiro, um bode e sobre os chifres 8.1-14
A interpretação de Gabriel 8.15-27
IX. A profecia das setentas semana 9.1-17
A oração de Daniel 9.1-19
A Visão da Daniel 9.20-27
X. A visão final de Daniel 10.1-12.13
A visão de Daniel de um ser glorioso 10.1-9
A visita de um anjo 10.10-21
Guerra entre reis do Norte e do Sul 11.2-45
O tempo da tribulação 12.1-1
Fonte:
Bíblia de Estudo NVI – Editora Vida;
Bíblia de Estudo de Genebra – Sociedade Bíblica do Brasil;
Bíblia de estudo King James;
Bíbla Plenitude - Editora SBB;
Bíblia de Estudo Thompson;
Panorama do Antigo Testamento – Editora Vida;
Dicionário Bíblico – Editora Didática Paulista;
Módulo de Teologia da Faculdade Teológica Betesda;
Wikipédia; (Diversos: artigos “Internet”).
Escola Bíblica Dominical
Igreja Batista Getsêmani – Missão Bernardo Monteiro
Pr. Ronny Souza
Tel.: (31) 8682-9332 / 9299-8056
email: ronisouza2003@gmail.com
Follow us: @ronnysouza on Twitter | ronnysouza.37 on Facebook
Este e outros estudos você encontra no endereço abaixo:
Blog.: http://www.vivendoemplenitude.blogspot.com.br/
Ministério “Abençoando vidas”
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Medite

Que tipo de fruto você tem produzido?
Nenhum comentário:
Postar um comentário